Angela Mendes reafirma legado de Chico em encontro com o Idace sobre a luta por terra e justiça social
Mesa de debate no Ceará reflete sobre o legado de Chico Mendes e reforça luta de povos e comunidades tradicionais
Angela Mendes em mesa de debate sobre a luta dos povos e comunidades tradicionais. Foto: Idace
A memória de Chico Mendes voltou a ocupar o centro das discussões sobre justiça social, meio ambiente e direitos humanos na última quinta-feira, 03. A presença de sua filha primogênita, Angela Mendes, presidenta do Comitê Chico Mendes, emocionou e fortaleceu o debate "O legado de Chico Mendes e as lutas dos povos e comunidades tradicionais", realizado em Fortaleza, Ceará.
A atividade foi uma realização conjunta do Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace), da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania e da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Semiárido da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (ALECE), em parceria com o Comitê e outras instituições.
O encontro ocorreu no auditório da ALECE, reunindo lideranças camponesas, representantes de comunidades tradicionais, parlamentares, gestores públicos e organizações da sociedade civil. A presença de Angela Mendes deu um tom de continuidade histórica à mesa, como um elo entre as lutas travadas nas décadas passadas e os enfrentamentos atuais por território, dignidade e políticas públicas voltadas ao campo.
Idace é responsável pela garantia da continuidade pelo direito pela terra no Ceará. Foto: Idace
“Fui muito bem acolhida pela equipe do Idace e da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará e por todes que foram participar. Foi muito emocionante ver como a história de meu pai ecoa em todos os cantos do planeta e minha vinda foi para prestigiar essa linda homenagem ao meu pai e seu legado, mas acima de tudo para me reconectar com minhas raízes ancestrais, pois neta de cearense sou, com muito orgulho”, conta a presidenta do Comitê.
Encontro por justiça
O evento marcou o início da agenda de abril do Idace, que tem como missão promover e executar a Política Agrária do Ceará. Entre suas atribuições, estão o reconhecimento de posses legítimas, a titulação de terras e a incorporação ao patrimônio público de áreas improdutivas ou ilegitimamente ocupadas — ações que dialogam diretamente com o ideário de reforma agrária popular, tão caro ao Comitê Chico Mendes.
A mesa foi também um símbolo vivo da luta de Chico, que sempre entendeu que preservar a floresta era garantir o futuro dos que nela vivem. Do seringal amazônico ao sertão cearense, o grito por terra, justiça e liberdade segue ecoando, agora nas vozes de novos sujeitos políticos que se erguem contra a grilagem, o desmatamento e o apagamento de modos de vida ancestrais.
Angela Mendes falou sobre a importância da luta pela terra, reverberando o legado de seu pai. Foto: Idace
“É preciso repetir sempre quem foi e quem Chico Mendes continua sendo hoje, agora”, diz Mendes
Verbo, prática, articulação
A parceria com o Comitê Chico Mendes, nesse sentido, reafirma um compromisso político e ético com os povos do campo, da floresta e das águas — protagonistas da resistência que molda o Brasil profundo.
“A importância de sua luta e de sua trajetória como um simples seringueiro sindicalista que ainda na década de 70 já alertava para o cuidado com a natureza antevendo os tempos que passamos hoje, nos alertava de como a falta de respeito e de amor com a floresta, com as águas, os animais e entre nós mesmos nos traria, como trouxe, de fato, à um tempo de desequilíbrio climático, ambiental e civilizatório”, fala Angela Mendes.
A presidenta do Comitê Chico Mendes com os parceiros do Idace. Foto: Idace
A presença de Ângela também representou um convite à ação: manter viva a luta de Chico Mendes é não permitir que seu legado seja transformado em mito inofensivo. É fazê-lo verbo, prática, articulação. A mesa realizada no Ceará foi mais um capítulo dessa caminhada coletiva, que segue tecendo redes, abrindo clareiras de esperança e germinando sonhos de um país mais justo, onde a terra, o corpo e a palavra de quem resiste valem mais do que o lucro de quem destrói.
Sobre o Comitê Chico Mendes
Criado em 1988 por militantes, familiares e organizações da sociedade civil na noite do assassinato do líder seringueiro e sindicalista Chico Mendes, o Comitê Chico Mendes surgiu como guardião de seus ideais e legado. Até 2021, atuou como um movimento social, promovendo a Semana Chico Mendes e o Festival Jovens do Futuro. Diante do desmonte da Política Nacional de Meio Ambiente, que afetou violentamente os territórios e suas populações, especialmente as Reservas Extrativistas, decidiu dar um passo estratégico para fortalecer sua atuação em prol do bem-estar social, ambiental, cultural e econômico das comunidades tradicionais.
Em maio de 2021, após um amplo processo de escuta e diálogo entre membros e parceiros, optou-se pela institucionalização do Comitê Chico Mendes. A decisão representou um marco na trajetória da organização, permitindo a implementação de projetos estruturados sem abrir mão da essência de resistência, expressa nas Semanas Chico Mendes, realizadas desde 1989, e no Festival Jovens do Futuro, promovido a partir de 2020.