“Não vou fugir nem abandonar a luta”: 20 anos do assassinato da irmã Dorothy Stang no Pará
Missionária católica dedicou sua vida à proteção dos Sem-Terra em uma região perigosa
Missionária foi exemplo de busca por justiça na Amazônia. Foto: Reprodução/Arquivo
Sete tiros. Em uma emboscada em um ponto distante no município de Anapu, a quase 700 quilômetros de Belém, no Pará. Era 12 de fevereiro de 2005. Vitalmiro Bastos de Moura e Regivaldo Pereira Galvão foram os principais acusados. Dorothy Mae Stang depois de cerca de 30 anos atuando na proteção da população sem-terra do Pará foi morta brutalmente.
Missionária católica e naturalizada brasileira, Dorothy foi um dos grandes nomes do socioambientalismo durante décadas no país. Seu nome foi tão grande que incomodou. Incomodou os latifundiários da região que encurtaram a atuação, mas não calaram seu nome.
“Não vou fugir nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade, sem devastar”, declarou Stang em entrevistas na época. Ela não moveu um passo para trás.
Seu assassinato foi mais um entre centenas de mortes em conflitos de terra. Segundo a CPT, durante o governo Bolsonaro (2019-2022), 111 pessoas foram mortas por essa violência.
Amair Feijoli da Cunha, contratado por Viltamiro para intermediar o assassinato, foi condenado a 18 anos de prisão. Rayfran das Neves Sales, assassino confesso de Dorothy Stang, recebeu pena de 27 anos, mas passou ao regime domiciliar em julho de 2013. Clodoaldo Carlos Batista, condenado a 17 anos como cúmplice de Rayfran, fugiu após deixar a Casa do Albergado em Belém, em fevereiro de 2011.
No documentário “Relatos de um Correspondente da Guerra da Amazônia”, documentário dirigido pelo repórter Daniel Camargos, lançado em 2022, sobre a repercussão do assinanato do jornalista - e amigo do diretor -, Dom Phillips, e do indigenista, Bruno Barreto, inicia uma indagação após saber da tragédia:
“Esse tipo de acontecimento deveria criar mais medo ou coragem?”.
A luta por justiça climática não pode parar. Por conta disso, quando uma Dorothy, ou Dom, ou Bruno ou Chico são injustamente tirados da luta em vida, sua morte repercute em diversos âmbitos. Na mídia, nas políticas públicas, na educação, na juventude. Essa organização, esse veículo, por exemplo, nasce desse sentimento.
A religiosa implantou o Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança, um modelo de assentamento que garantia renda com a colheita sustentável de madeira. Fazem 20 anos da tentativa de calar Dorothy, que deu errado. Sua voz foi calada, mas um grito reverberou para a garantia de que isso não se repita. Assim como Dorothy, que não fujamos nem abandonemos a luta.