Acho que a forma do Chico se manter jovem era se relacionando com os jovens. Eu sentia nele uma mistura de pai e irmão. Era paterno quando transmitia a firmeza da maturidade, dos compromissos, das responsabilidades. Era irmão porque colocava as coisas de igual para igual. Não impunha um pensamento: ele dialogava com as nossas ideias.

Como companheiro, celebro as vitórias alcançadas por todos e por todas nós a partir dos empates de Xapuri. Como brasileiro, celebro Chico Mendes, herói do Brasil, por continuar servindo de norte para a nossa luta por dias melhores para todas e todos nós, especialmente para os Povos da Floresta.

A presença do Chico como uma pessoa da paz e do diálogo, naquele momento em que o Brasil vivia o seu processo de redemocratização, ficou marcada de forma muito especial naquela plantinha que brotou no meio daquele ambiente de mudança e que nós chamamos de Aliança dos Povos da Floresta.

E pensar que o Chico Mendes tantas vezes foi me ver, foi na minha casa dizer que estava para morrer, que se sentia muito ameaçado e que tinha certeza de que não ia viver. Eu brincava com ele e dizia: “Morre nada, Chico. Esses cabras não têm coragem de te pegar”. Mas ele começou a fuçar fundo e acabou encontrando provas contra as pessoas que o ameaçavam.

Surgia um novo estilo de liderança. Nascido e criado na floresta, simples e paciente, mas sem fugir do perigo, Chico saiu buscando alianças para salvar o mundo enorme e novo que defendia e amava. Ele levou a luta dos seringueiros para as redações de jornal, rádio e TV. Fez palestras nas Universidades, juntou-se aos cientistas sociais, procurou parceiros no País e no exterior.

As Terras Indígenas, os territórios habitados por demais povos e comunidades tradicionais e as Unidades de Conservação são essenciais para conter o desmatamento no Brasil e para combater a emergência climática enfrentada por toda a humanidade. A proteção dos diferentes biomas é essencial para qualquer produção agrícola, pois garante água, garante a presença de agentes polinizadores e de tantos outros fatores sem os quais nada se produz.

Me lembro de Chico Mendes falando que para o índio e para o seringueiro, defender a floresta era como defender a própria vida. Depois veio a morte, a tristeza, o desconsolo e, no meio disso tudo, a decisão de fazer o Encontro da Aliança como combinamos. Em março de 1989, sem Chico Mendes - mas para honrar o compromisso assumido com ele - fomos todos em direção ao Acre e fizemos o nosso I Encontro dos Povos da Floresta. 

Depois da morte do Chico, refletimos muito sobre os nossos propósitos, traduzidos na dimensão agrária e na regularização fundiária, na manutenção da cultura das comunidades tradicionais e da produção com bom manejo, no fortalecimento das organizações, no rompimento do isolamento do CNS e na ampliação das alianças para fortalecer a luta.

O exemplo do Chico Mendes, do Ailton Krenak e de tantos outros companheiros e companheiras que fizeram a Aliança dos Povos da Floresta nos inspira e nos dá forças para seguir lutando por dias melhores para os Povos da Floresta.